Maria Rosa Delmasso
Rodrigues ficou cega em 1995 após ser aprovada em concurso (Foto: Arquivo
pessoal)
A luta de Maria Rosa
Delmasso Rodrigues, de 56 anos, por autonomia e direitos é inspiradora. A
história dela, hoje, é combustível para incentivar outras mulheres, que, assim
como ela, são deficientes visuais.
Ex-diretora de
escola municipal em Marília (SP) por mais de uma década, Maria perdeu a visão
em 1995, quando era professora infantil e tinha acabado de ser aprovada no
concurso para chefiar uma unidade de ensino vinculada à prefeitura.
Quando sofreu o
descolamento de retina que a deixou cega, a docente tinha um filho de um ano e
meio e também precisava lidar com os desafios da maternidade. E ela, ainda,
queria poder fazer tudo isso sem a ajuda de outras pessoas.
Foram anos de
enfrentamento judicial para assumir o cargo, e muito desgaste para reverter uma
aposentadoria compulsória, ao mesmo tempo em que superava os desafios impostos
pela perda da visão.
Hoje, Maria Rosa usa
toda esta experiência para dar consultoria na rede municipal, ao mesmo tempo em
que cursa mestrado na área de psicologia da educação, com ênfase no ensino de
matemática.
Paralelamente, ela
ainda auxilia outras mulheres cegas a se tornarem independentes. Nesta
quarta-feira, Dia Internacional da Mulher (8), ela, inclusive, participa do
projeto “Mulheres Desbravadoras”, promovido pela Associação dos Deficientes
Visuais de Marília (Adevimari).
O evento acontece a
partir das 9h15, na sede da entidade, que fica na Avenida Sampaio Vidal, 245,
no Centro.
Segundo os organizadores,
o objetivo é “a inclusão das mulheres com deficiência visual na sociedade,
procurando estimular e desenvolver a sua plena independência nas diferentes
atividades da vida”.
Muitas mulheres
cegas, segundo a associação, vivem em situação de isolamento social e de
vulnerabilidade “devido à falta de transporte que viabilize sua chegada até os
atendimentos e a carência de implantação de outros programas de atendimentos
que propiciem o seu pleno desenvolvimento”.
Maria Rosa vai
conversar com outras mulheres cegas sobre o uso do cão-guia. De acordo com ela,
aprender a utilizar a bengala, e vencer a insegurança para se locomover e ter a
“experiência de rua” é fundamental para as demais atividades da vida.
Entre outras coisas,
como aprender a lidar com programas de computação para cegos e se adaptar a uma
série de hábitos e técnicas, foi o que a permitiu, enquanto esperava sua
nomeação como diretora, a desempenhar cargos de liderança em diferentes
instituições.
Durante quase cinco
anos, Maria Rosa viveu na região sul do Brasil onde dirigiu centros de apoio a
pessoas com deficiência visual, criou salas de aula para crianças cegas, fundou
projetos de acessibilidade e desenvolveu outras iniciativas. “Foi onde descobri
que mulheres cegas poderiam liderar, de fato”, diz.
“Existem mulheres
cegas que não saem de casa por causa da insegurança e do medo da própria
família, que não sabem o que é um quarteirão. Então a gente ensina, acompanha
pelas redondezas de casa, mostra os obstáculos, como pegar o transporte
público”, conta a pedagoga sobre parte do trabalho desenvolvido por ela com a
Adevimari.
Além da ensinar
outras mulheres com deficiência visual sobre questões práticas do cotidiano, os
encontros e as rodas de conversa, de acordo com a ex-diretora, são fundamentais
para a autoestima e troca de experiências.
“A gente sabe das
lutas das mulheres até conseguirem o espaço para o trabalho, a luta é para
todas, então você imagina para uma mulher com deficiência visual, ser mãe, dona
de casa, assumir todas as outras obrigações que outras mulheres assumem, se não
tiver centro de reabilitação com profissionais que orientem, tem muitas
mulheres que caem em depressão, mas ficar cega não é o fim dos sonhos, longe
disso”, destaca.
Fonte: temmais.com