Natália Rosa com o
filho Ivan (Foto: Arquivo pessoal)
Cada uma a sua
maneira, duas mães se tornaram símbolos da luta por direitos e qualidade de
vida para seus filhos em Marília (SP).
São elas a
publicitária Natália Rosa, mãe do Ivan de 8 anos, e a enfermeira Nayara Mazini,
mãe da Letícia, de 10. Duas crianças que possuem diferentes síndromes raras.
A luta de Natália
por inclusão para Ivan na escola em que o garoto estudava resultou na
publicação de um livro em dezembro de 2021 e, desde então, vem inspirando
outras mães que vivenciam situações parecidas.
A obra literária
infantil “O voo do passarinho” representa uma forma de protesto que surtiu
efeitos práticos, tanto para o garoto que possui uma alteração genética
geradora de múltiplas deficiências, quanto para outras crianças que necessitam
de mais políticas de inclusão. O livro está disponível para download.
Ivan não tinha
nenhum brinquedo adaptado para recebê-lo com suas deficiências físicas e
mentais no playground da unidade de ensino do município em que estudava, mas
isso mudou após a iniciativa de sua mãe.
“O livro conseguiu
trazer à tona a versão de uma realidade muito triste, que é deixar a criança
sem a oportunidade de brincar”, conta Natália, que usou como personagem do
livro um filhote de pássaro para fazer alusão à história do filho.
O enredo fala do
passarinho que também se chama Ivan e nasceu diferente dos demais. Ele não
conseguia bater as asas, mas seus pais não desistiram e o matricularam em uma
escola de voo em que a mamãe pássaro, assim como Natália, luta por um brinquedo
para o pequeno.
Escrever de um modo
lúdico foi a forma que a publicitária encontrou de sensibilizar a sociedade, já
que no embate direto, dentro da escola, durante quatro anos, ela não conseguia
conquistar a empatia de outros pais por sua luta, nem era atendida em seus
apelos à direção.
Após o lançamento,
além da escola, posteriormente a administração pública municipal também
instalou outros brinquedos acessíveis em espaços públicos, como praças.
“A própria
prefeitura passou a ter um olhar mais aprofundado para as crianças com
deficiência, o que antes era ignorado”, avalia a mãe de Ivan.
Com a dedicação e
luta de seus pais, o garoto também vem se desenvolvendo além das expectativas
de quando foi diagnosticado como a 13ª pessoas no mundo com o gene DHX30, que é
chamada pela medicina de Denovo.
“Eu vejo o Dia das
Mães como uma data importante para mostrar que a gente pode ser feliz com
nossos filhos, mesmo que as propagandas publicitárias que mostram famílias
felizes nunca tenham um deficiente no meio. Temos dado alguns passos, mas ainda
temos muito para lutar por inclusão”, afirma Natália.
Cannabis medicinal
Já a luta da
enfermeira Nayara de Fátima Mazini Ferrari passa pela militância em prol da
cannabis medicinal, atuação no terceiro setor com a fundação de diversas
organizações não governamentais e também por vias institucionais.
Pelo direito de
tratar sua filha Letícia, de 10 anos, ela acabou ajudando filhos e filhas de
muitas outras famílias. A funcionária pública, que hoje cursa doutorado na área
de militância, também é mãe de um adolescente, de 13 anos, o Miguel. Ela é mãe
solo dos dois.
Nayara descobriu na
cannabis a medicação para controlar os episódios de epilepsia refratária, nome
dado às convulsões que não conseguem ser interrompidas por remédio
convencionais, da filha. Antes, a vida delas era permeada por internações e poucas
expectativas.
A princípio, Natália
importava o óleo extraído da maconha a preços elevados. Depois, conseguiu uma
das primeiras decisões judiciais do país autorizando o plantio para obtenção
dos princípios ativos em casa. Hoje, é uma das dirigentes da Associação
Brasileira de Cannabis Medicinal (Abracamed).
“Se tornar mãe
representa uma mudança completa de vida, de planos, de objetivos, de rever cada
passo, cada direcionamento, porque enquanto você não é mãe, você consegue
traçar objetivos pensando somente em si, tanto profissionais, como educacionais
e metas de vida”, comenta Nayara.
“No momento em que
você passa a ser mãe, existe um serzinho que precisa ser pensado prioritariamente,
e depende única e exclusivamente de você no início da vida. Acaba colocando
todos os seus projetos em segundo plano, para que você consiga, de fato,
priorizar as necessidades dessa criança que chega”, completa.
E quando se trata de
uma maternidade atípica, como a dela, os desafios são ainda maiores. Segundo a
enfermeira, em muitos casos elas acabam se tornando mães solo, já que muitos
companheiros abandonam a família devido aos cuidados extraordinários que as
crianças necessitam.
“A grande maioria de
mães de crianças especiais é sozinha e precisa dar conta de todas as demandas
”, explica Nayara. Para ela, é preciso transformar as lutas pelos filhos em
projetos de vida, para que seja possível “dar conta de tudo”.
Tal trajetória,
inclusive, levou ela a se engajar na política, que vê como um espaço de luta
por direitos, desde a proposição de ideias legislativa pela liberação de
centros de estudos da cannabis medicinal no Congresso Nacional, até sua
candidatura como a primeira mulher na disputa pela prefeitura de Marília em
2020, outro ato pioneiro de sua parte.
“Muitas mães, e
mulheres em geral, não se envolvem com a política devido à carga enorme que se
coloca sobre elas, que continuam trabalhando, cuidando da casa, da família, dos
filhos, enquanto os políticos homens conseguem largar tudo para se dedica
exclusivamente à coisa pública, às suas carreiras”, conclui a enfermeira sobre
a disparidade na representatividade de homens e mulheres nos espaços de poder.
Fonte: temmais.com
Nayara
Mazini com a filha Letícia (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)