Desde o final de
janeiro o auditor da Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São
Paulo em Marília (SP) Jair Rosa vem fazendo uma verdadeira “caçada” por
premiados da Nota Fiscal Paulista que não resgataram seus prêmios.
O programa do
governo estadual devolve um percentual do valor gasto pelo contribuinte que
pede a Nota Fiscal Paulista e os inscritos, que além de ajudarem no combate à
sonegação fiscal, também podem ser sorteados com valores de até R$ 1 milhão.
Até este mês, por
meio da iniciativa de Jair, já foram distribuídos mais de R$7,2 milhões para 36
pessoas que não faziam ideia de que tinham sido sorteadas. Quase sempre, no
entanto, encontrar os sortudos é só parte do esforço.
Como em diversos
casos, o cadastro dos ganhadores junto à pasta está desatualizado. O auditor
fiscal se vale de diversos sistemas públicos e até consultas ao Google para
conseguir localiza os felizardos.
Jair já conseguiu
contatar alguns deles por WhatsApp, e-mail, carta e até ligando em estabelecimentos
comerciais próximos de endereços relacionados aos ganhadores. Tudo isso para
evitar que os prêmios expirem, o que acontece no prazo de cinco anos.
“Teve um senhor que
foi premiado com R$ 500 mil. Descobri o endereço dele através do cadastro junto
ao IPVA e passei a mandar cartas. Para convencê-lo de que era algo sério,
cheguei a descrever o carro em seu nome”, conta.
O verdadeiro desafio
enfrentado por Jair, de acordo com ele, é justamente convencer os beneficiados
de que não se trata de trote ou golpe. É necessária muita insistência para que
os premiados acreditem nele. E nem sempre funciona.
“Todo mês recebíamos
a lista de prêmio represados de pessoas que não apareceram para recebê-los.
Isso me incomodava muito e no final do ano passado pedi autorização para ir
atrás dessas pessoas”, conta o auditor, que exerce função pública há nove anos.
Mudança de carreira
Jair tem 60 anos e
se tornou auditor de tributos do Estado já depois dos 50, em 2014, após uma
carreira de mais de duas décadas no Banco do Brasil. Há seis anos ele assumiu a
chefia do posto fiscal de Marília.
“O que me incomodava
era essas pessoas terem se inscrito no programa, ajudando a combater a
sonegação, com direito a esses valores e sem acesso a eles. Entendo que é dever
da Secretaria ir atrás delas”, afirma o auditor, cuja função é normalmente
associada à cobrança de tributos e não à distribuição de prêmios.
Inicialmente, a
lista de prêmios represados contava com mais de 40 pessoas, mas hoje são apenas
sete, que seguem se recusando a acreditar que são ganhadoras. “Quem sabe com
essa reportagem elas não se convencem, não é?”, questiona.
De acordo com o
funcionário estadual, normalmente as pessoas desligam na sua cara quando ele
fala da premiação. Então, entram em campo as outras técnicas. “Eu aviso para
depois não reclamarem de que a sorte não bate à porta, pois ela está batendo”.
Por fim, ele explica
que a maioria dos contatados acaba fazendo a verificação do prêmio no site
oficial do programa Nota Fiscal Paulista ou procurando diretamente o posto
fiscal mais próximo de suas casas.
Uma servidora
pública estadual que mora em São Paulo e preferiu não se identificar é uma das
ganhadoras localizadas por Jair. Ela foi sorteada há três anos com o prêmio de
R$ 500 mil e confessa que maltratou o auditor da primeira vez que ele lhe
procurou.
“Tive certeza de que
era um golpe, então tratei ele como um estelionatário, um delinquente”, contou
a ganhadora, que levou cerca de 20 dias para ser convencida e é considerada o
caso mais difícil por Jair. “Depois eu liguei para ele e pedi desculpas”.
A funcionária do
Estado só teve certeza da premiação quando chegou em uma unidade da Secretaria
da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo localizada no bairro do
Tatuapé.
“Só de apresentar
meu primeiro nome todos já me conheciam por lá, sabiam que eu era a ganhadora.
Nunca fui tão parabenizada”, brinca Cláudia, que só passou a levar a história
de Jair a sério após mostrar para um de seus filhos uma das cartas recebidas.
Outra ganhadora
encontrada por ele, que não revela quanto ganhou, é a jornalista Bibiana
Camargo, de 54 anos. O dinheiro veio em boa hora, já que ela estava endividada
e precisava terminar de pagar a formação das filhas.
A princípio, ela
também ficou relutante, mas após constatar que Jair tinha razão, enviou-lhe uma
carta como forma de agradecimento.
“Você foi
instrumento de um milagre. Minha vida estava um caos absoluto, meu nome
negativado”, escreve Bibiana na carta, compartilhando o sentimento de muitos
outros ganhadores encontrados pelo auditor fiscal.
Fonte: temmais.com
Carta enviada a Jair
por Bibiane, como forma de agradecimento (Foto: Reprodução)