'Sossego total': menor cidade de SP, Borá só tem 32 ruas e não possui semáforo nem trânsito (Foto: Prefeitura de Borá/Divulgação)

Poucas ruas, nenhum semáforo e zero trânsito. No pequeno município de Borá, no centro-oeste paulista, é possível percorrer todas as vias da cidade, de ponta a ponta, em menos de 30 minutos.

Não à toa, a cidade foi considerada a menor do estado de SP e a segunda menor do país pelo Censo Demográfico 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (28). Ela também está na lista de apenas 3 dos 5.568 municípios do Brasil que possuem menos de 1 mil habitantes.

Quem garante o sossego nas singelas 32 ruas boraenses é Valdirene Marconato, de 52 anos, uma das residentes da cidade. Nascida e criada em Borá, ela trabalha como professora na única escola do município, a unidade estadual Doutor José de Souza.

“De carro, dá para atravessar a cidade de um lado até o outro em dez minutos. Se for passar por todas as ruas, dá para fazer em 30. Não tem trânsito nenhum. É um carro que sobe e outro que desce. Sossego total. É um pedaço do céu”, diz.

A cidade teve 907 habitantes registrados no levantamento do IBGE. Apesar de pequeno, o número representa um aumento de 12,7% em relação aos 805 boraenses notificados no último Censo, feito em 2010.

O número também é maior que as estimativas parciais do IBGE para este Censo, que indicavam que a cidade possuía 846 habitantes. É ainda superior à estimativa populacional de 2021, que informou que o município tinha 839 moradores.

Borá, de 907 habitantes, fica no centro-oeste de São Paulo (Foto: Arquivo pessoal)
Borá, de 907 habitantes, fica no centro-oeste de São Paulo (Foto: Arquivo pessoal)

 

Com tão pouca gente, é até fácil não ter vizinho por lá. “A gente tem várias casas que são feitas uma do lado da outra. Quem mora na última rua, já não tem mais vizinho. É um pasto e um rio. Ele vê toda a paisagem”, conta Valdirene.

Não é comum que boraenses se mudem de um bairro para o outro, como é habitual em outras cidades, segundo a professora. Ela, por exemplo, nunca ouviu falar de alguém que tenha mudado de casa dentro da cidade. “É raro acontecer mudança”.

Mas as migrações existem. Valdirene nota que mais pessoas se mudam para Borá do que saem dela. “Às vezes, a pessoa vem de uma cidade maior e gosta dessa calmaria toda. Ela acaba procurando uma casa e fica por aqui”.

A maioria das pessoas que chegam à cidade é aposentada. Não apenas pelo sossego, mas pela baixa variedade de empregos – boa parte dos moradores trabalha em uma usina de açúcar e álcool em Paraguaçu Paulista, município vizinho.

Borá, no interior de SP, tem apenas 32 ruas e não possuí semáforos (Foto: Arquivo pessoal)
Borá, no interior de SP, tem apenas 32 ruas e não possuí semáforos (Foto: Arquivo pessoal)

 

Segundo o prefeito da cidade, Luiz Carlos (PTB), a presença da usina na cidade vizinha é um dos principais motivos para o aumento populacional dos últimos 12 anos.
“Muitas pessoas vêm para a cidade por causa da usina. Mais de 20% da população trabalha na cidade vizinha. São cerca de 200 moradores de Borá que vão para Paraguaçu Paulista trabalhar todos os dias”, diz.

Até por isso, o único transporte público que existe na cidade é o intermunicipal que faz a rota, de cerca de 18 km, de Borá a Paraguaçu Paulista. Ele é gratuito para população e o município tem um gasto de cerca de R$ 22 mil por mês para oferecer o serviço.

A Saúde também é singular na cidade. Por lá, há apenas uma Unidade Básica de Saúde (UBS), que fornece atenção primária. Quando o caso é grave, os moradores precisam se deslocar até Paraguaçu para receber atendimento, que normalmente acontece na Santa Casa.

Cidade ‘caçula’

Este é o 11º ano consecutivo em que Borá assume a vice-lanterna do ranking populacional – em projeções feitas anualmente pelo IBGE. Desde 2013, o município só tem mais moradores que Serra da Saudade (MG), que registrou 833 habitantes neste Censo.

Mas a cidade paulista já chegou a ser a “caçula” do país no passado. Os boraenses ostentaram o título por longos 20 anos, entre os Censos de 1991, 2000 e 2010. No período, a população da cidade variou de 791 a 805.

Em 2013, no entanto, estimativas do IBGE identificaram mais habitantes em Borá do que em Serra da Saudade: foram 834 paulistas ante 825 mineiros. Por causa da diferença, de apenas 9 pessoas, a cidade de Minas Gerais se tornou a menos populosa do país, posto que mantém desde então.

No Censo 2022, as duas cidades foram as únicas entre as cinco menores do país a registrar aumento populacional. As demais, Anhanguera (GO), Araguainha (MT) e Novo Castilho (SP), tiveram queda.

Alunos da escola Dr. José de Souza, em Borá (SP), fizeram uma maquete da pequena cidade paulista (Foto: Arquivo pessoal)
Alunos da escola Dr. José de Souza, em Borá (SP), fizeram uma maquete da pequena cidade paulista (Foto: Arquivo pessoal)

De 10º a 1º do ranking

Borá foi elevada à categoria de município em 1964, depois de ser desmembrada de Paraguaçu Paulista. O nome dado à cidade vem de uma abelha que proliferava na região no início do século XX.

No primeiro levantamento realizado pelo IBGE na cidade, em 1970, Borá tinha 1.270 habitantes e era o décimo município menos populoso do país.

Dez anos depois, a cidade saltou para o segundo lugar depois de uma significativa variação no número de habitantes, que caiu para 866.

Curiosamente, Borá tem mais eleitores do que habitantes. Nas eleições de 2022, havia 1.040 pessoas aptas a votar no município, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Eram 201 a mais que os 839 moradores estimados pelo IBGE no ano anterior.

De acordo com os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), essa diferença pode ser causada por defasagem nas estimativas de população, migrações e fraudes ou simplesmente porque pessoas se mudaram de Borá sem transferir o título eleitoral para o novo endereço.

Segundo o TSE, há apenas uma zona eleitoral na cidade, abrigada justamente na única escola do município. Para atender os estudantes, a unidade é compartilhada entre o Estado e a cidade. Assim, ela oferece tanto ensino estadual, no período da manhã, quanto municipal, à tarde.

“As salas têm seis, nove alunos. É bem tranquilo para dar aula. A maior sala que temos aqui, do Estado, tem 20 alunos”, diz Valdirene, que leciona língua portuguesa na escola como professora da rede estadual.

Professora Valdirene com alunos da única escola de Borá (SP) (Foto: Arquivo pessoal)
Professora Valdirene com alunos da única escola de Borá (SP) (Foto: Arquivo pessoal)

Censo do IBGE

O Censo é uma pesquisa realizada pelo IBGE para fazer uma ampla coleta de dados sobre a população brasileira. Ela permite traçar um perfil socioeconômico do país, já que conta os habitantes do território nacional, identifica suas características e revela como vivem os brasileiros.

Todos os 5.568 municípios brasileiros, mais dois distritos (Fernando de Noronha e Distrito Federal), num total de 5.570 localidades, receberam visita de recenseadores. Segundo o IBGE, foram visitados 106,8 milhões de endereços em 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

De acordo com o levantamento, a população brasileira chegou a 203.062.512 em 2022. É um aumento de 6,43% em relação aos 190.755.799 habitantes registrados no último Censo, em 2010.

Este Censo estava programado para ser realizado em 2020, mas foi feito com dois anos de atraso por causa da pandemia de Covid-19 e por falta de orçamento.

 

Fonte: temmais.com

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