REPRODUÇÃO CIDA MOREIRA/DIVULGAÇÃO/JC
Dona de uma voz
potente e de uma personalidade cênica dramática, a cantora Cida Moreyra diz
amar o silêncio e confessa não ter entendido ainda sua missão nesta vida.
Entre discos e
livros, vive uma das mais respeitadas personalidades da música brasileira: Cida
Moreyra. Fã de Janis Joplin, Tom Jobim, Villa Lobos e Chico Buarque, gosta
mesmo é de arroz, feijão e bife com batatas fritas. Ama viajar (quer morrer em
Veneza), considera-se solitária, gosta de plantas, animais, não tem medo da
morte e se define como inteligente e desiludida.
Porém, Cida divide a
densidade de seu temperamento artístico com uma vida cotidiana comum e confessa
adorar as bobagens da televisão. Cida já cantou em países como Alemanha,
França, Itália, Holanda, Portugal e não tem ritual nenhum antes de subir no
palco senão aquecer a voz e maquiar-se.
Maria Aparecida
Guimarães Campiolo nasceu em São Paulo, SP, em 12 de novembro de 1951, mais
conhecida como Cida Moreyra, é uma cantora, atriz e pianista Brasileira.
Com cinco anos tocava piano e cantava
na rádio Clube Marconi em Paraguaçu Paulista. Na adolescência, participava de corais no colégio, em
Londrina/PR, onde morou dos 13 aos 17 anos. Uma fase muito importante na sua
vida. Quando terminou o conservatório voltou a São Paulo.
Na faculdade, houve
um momento muito profícuo de teatro universitário e muita política estudantil.
Aí Cida exerceu sua profissão de psicóloga por cinco anos.
Só em 1978 voltou a
trabalhar com arte, já profissionalmente. Mas Cida diz que ainda pretende
voltar a exercer a profissão de pisicóloga.
Consagrou-se nos
palcos brasileiros como Cida Moreira após estrear profissionalmente em 1977 com
a peça "A Farsa da Noiva Bombardeada", de Alcides Nogueira, com
direção de Marcio Aurélio e um elenco que contava, dentre outros, com Miguel
Magno.
Era o grupo de
teatro experimental "Pompa e Circunstância", com o qual Cida fez
ainda outro texto de Alcides: "Tide Moreyra e sua Banda de Najas".
Participou ainda em
1977 do espetáculo "Teatro do Ornitorrinco canta Brecht e Weill", com
Cacá Rosset, Maria Alice Vergueiro e Luiz Roberto Galízia, com os quais ainda
trabalharia em 1982 em "Mahagonny Songspiel", também do dramaturgo
alemão.
Integrou o elenco
original de "Ópera do Malandro", adaptação de Chico Buarque de
Hollanda para a "Ópera dos Três Vinténs" de Bertolt Brecht, após
Chico ter ido ver ao Teatro do Ornitorrinco cantando as parcerias do dramaturgo
com Kurt Weill, trabalhando, assim, com Elba Ramalho, Marieta Severo, Ary
Fontoura e Emiliano Queiroz, dentre outros.
Substituiu Miucha no
fim da temporada de "Saltimbancos", fazendo a personagem da Galinha.
Quando as pessoas já
estam acostumadas ao vinil colorido como marca dos disquinhos infantis, surgiu
no mercado um grande LP lilás, com capa no mesmo tom e - impressionante - as
melodias cantadas em lilás.
Seu primeiro
espetáculo solo foi "Summertime", no início dos anos 1980, o qual
viria a ser seu primeiro registro fonográfico (com grande sucesso de público e
crítica). O show, dirigido por José Possi Neto, tratava-se de uma homenagem à
cantora Janis Joplin e à sua época.
Em seu disco de
estréia, "Summertime" de 1981, gravado
AO VIVO no antigo
Lira Paulistana em São Paulo. Cida Moreira já começou pegando pesado - denso e
único, ela fez uma revisão de grandes clássicos do blue e do jazz
norte-americano - além de cantar, pela primeira vez, a versão censurada da
música "Geni e o Zepelim", de Chico Buarque e "Gota de
Sangue", de Angela Ro Ro.
Seguiu fazendo
espetáculos como "Serpente Rara" e "Arte", lançou seu
segundo disco "Abolerado Blues" e fez na década de 1980 ainda, vários
filmes que marcaram a produção de uma geração de cineastas paulistas.
Com a trilha sonora
de "Estrela Nua", no entanto, composta por Arrigo Barnabé, recebe um
convite para ir, com ele, à Europa, onde passa uma temporada fazendo shows.
Quando volta, retoma
sua carreira no País. Os discos da cantora Cida Moreira são repletos da atriz
Cida Moreira, ela toma o palco como uma deusa de Hollywood - sua interpretação
não se abstém à voz: o corpo, a expressão do rosto, o toque no piano - ela canta
inteira.
Com um repertório
refinadíssimo que passa pelo melhor da MPB e chega até Bretch, é uma das únicas
cantoras brasileiras que sabe, como ninguém, abrir os ouvidos de seu público
para a verdadeira arte cultural - não apenas musical.
Em 1986 lança o
álbum "Cida Moreyra", em 1988 o aclamado "Cida Moreyra
interpreta Bertolt Brecht", realizando um sonho de anos.
Lançou ainda
"Na Trilha do Cinema", "Cida canta Chico", "Uma canção
pelo ar" e "Angenor" (em tributo ao compositor Cartola), além de
participar de discos como "Mensagem" com poemas musicados de Fernando
Pessoa, "Essa Chama que não vai Passar", em tributo à Maysa e
"Dolores", em tributo à Dolores Duran, dentre outros.
Desenvolve inúmeros
projetos de pesquisa musical que terminam sempre em espetáculos repletos de
cultura e inteligência como "Cabará Bilbao", "Canções Para
Cortar Os Pulsos" (com André Frateschi, uma homenagem a Tom Waits),
"Modinhas imperiais", "Cole Porter", "Porgy and
Bess", além de outras montagens teatrais como sua participação em "Às
Margens Plácidas" com Pod Minoga, por exemplo.
Para Cida Moreira
cantar Tom Waits, Mario de Andrade, Chico Buarque, Bertolt Brecht & Kurt
Weill "não há segredo, apenas entrega".
É o que a cantora
faz mais uma vez, ao se aprofundar no lirismo de Cartola (1908-1980), sendo
"o menos óbvia possível".
Da beleza de seu
cancioneiro, Angenor (Lua Music) recupera canções menos difundidas como Feriado
na Roça, Evite Meu Amor, Fim de Estrada, Senões e O Silêncio de Um Cipreste,
esta com participação de Marcelo Fonseca.
"O repertório
foi dividido de modo a trazer as pérolas que eu já cantava, e as menos
conhecidas... Para nossa própria riqueza", diz Cida.
"Cartola já tem
extraordinárias gravações, como a do Ney Matogrosso e da Leny Andrade, por
exemplo. Ouvi tudo que pude e principalmente o próprio, e acho que reaprendi a
cantar com ele."
Ela, então, cantou
com uma "simplicidade desconhecida" nela, só "pelo impacto da
beleza de sua obra". Esse reaprendizado, ou seja, o exercício de tornar
seu canto mais delicado, Cida diz que já vem acontecendo desde 2004, ano que
marcou uma grande mudança pessoal e profissional na vida da cantora.
"Deixei de
trabalhar com Gil Reyes, com quem trabalhei
durante 16 anos,
maravilhosos anos. Ele fez todos os meus discos da Kuarup, tínhamos uma
linguagem comum de piano, sopros, canções muito dramáticas", conta a
cantora.
Decidida a
"optar por outras sonoridades instrumentais", ela conheceu Camilo
Carrara "e seu violão delicado e sofisticado".
Cida e Carrara então
levaram para o palco o projeto Modinhas e Canções do Brasil, baseado nas
modinhas imperiais recolhidas por Mário de Andrade, em 1936, que ela ainda vai
gravar, "com certeza".
Já era para ter
gravado, aliás. "Eu havia mandado o projeto das modinhas para todos os
editais oficiais, etc., e fui rejeitada em todos eles", observa.
Então, o violonista
Omar Campos , resolveu pesquisar Cartola e Adoniran Barbosa (que ela promete
também gravar um dia) e eles se decidiram pelo compositor carioca, coincidindo
com seu centenário de nascimento.
Campos assina a
produção musical do CD com a cantora e já havia tocado com ela e Reyes por
anos, incluindo os discos dedicados a Chico Buarque (1993) e a temas de filmes
brasileiros (1997).
Quem levou o projeto
de Cartola para a Lua Music foi o produtor Thiago Marques Luiz, que fez um belo
tributo a Maysa (1936-1977), com diversos intérpretes além de Cida, em 2007.
Carrara imprime seu
toque elegante, digno de Cartola, em 14 das 16 faixas de Angenor. As exceções
são a ruralista Feriado na Roça, com Campos (violão e viola caipira) e
Oswaldinho do Acordeon, e Peito Vazio, em que ela canta acompanhada apenas do
piano de Keko Brandão.
Outros músicos
"extraordinários que ajudaram o fino bordado": Toninho Carrasqueira,
Mario Manga, Adriano Busko, Loyola, Chiquinho de Almeida e Passarinho. A filha
de Cida, Julia, canta com ela em Alvorada.
Uma das faixas
despojadas e, ao mesmo tempo, de resultado mais requintado do CD é O Mundo É Um
Moinho, em que ela canta apenas acompanhada do violão de Carrara.
Outros exemplares
são a já citada Peito Vazio, em que ela destila sua porção seresteira, e
Autonomia, esta reunindo Brandão e Carrara.
Deixando o próprio
piano de lado, Cida vai na essência das canções de Cartola, reverente e
minuciosa, mas também intensa e com a mesma personalidade que demonstra ao
interpretar Tom Waits no ótimo show Canções Para Cortar os Pulsos.
"Conheci o
Cartola, assisti ao Cartola, e ele me parecia até agora um pouco inatingível,
pois eu não possuía a sutileza que sinto nele o tempo todo. E fui caminhando
até ele. Por incrível que pareça, Tom Waits trabalhou muito em mim essa mesma
delicadeza. A fúria dramática ficou como opção estética", conta Cida.
Há quem ache
inusitado uma cantora cujo nome é ligado à performance teatral, à
"vanguarda paulista" dos anos 80, homenagear o centenário de um
compositor carioca, que nem a própria escola de samba que ele simboliza, a
Mangueira, o fez.
"O senso comum
me liga à vanguarda paulista, me liga ao teatro todo o tempo, me chama de
paulista, como se eu não fosse apenas uma cantora brasileira. Acho engraçado
tudo isso, pois faço parte sim de tudo isso, mas nunca representei apenas um
papel como artista, e sempre fiz o que me deu na cabeça, e faço até hoje."
Dedicado ao ator e
cantor gaúcho Antonio Carlos Brunet e ao falecido cantor Ney Mesquita, o CD
teve shows de lançamento nos dias 4, 5 e 6 de julho/2008 no Auditório
Ibirapuera.
Além dos músicos que
participaram das gravações, Cida vai receber convidados de gerações e estilos
diversos como Zélia Duncan ("querida amiga de muitos anos"), Alaíde
Costa ("minha deusa"), Célia ("enorme cantora"), Zé Luiz
Mazziotti, Márcia Castro e Helio Flanders, do Vanguart, estes talentos
contemporâneos e seus "xodós atuais".
Cida diz: "Sou
filha de imigrante. Sou concreta. Meu pai veio da Itália pra substituir os
escravos na lavoura de café. Então eu tenho esse jeito de abordar o mundo.
Menos fantasioso. Qualidade: honestidade desconsertante, embora me traga muitos
problemas até hoje. Defeito: essa mesma honestidade. Segundo minha filha, sou
generosa beirando o excesso e nunca recebo o que dou em troca. Mas não acho.
Penso que só sou doadora quando quero e acho que as pessoas merecem."