Gerar uma vida nova, carregá-la no ventre, conhecer o amor de um filho e criá-lo para o mundo. Este processo natural da vida é o sonho de muitas mulheres. Porém, em diversos casos, este desejo não é simples de ser concretizado por vários motivos. Este foi o caso de Aline Muniz, moradora de Presidente Prudente (SP), que realizou o sonho da maternidade após tentar por mais de 20 anos. Com ajuda da ciência, e muita oração, a cabeleireira engravidou de Leonardo através do método de Fertilização In Vitro (FIV). "Filho foi o melhor presente que Deus pôde me dar na minha vida”, admitiu ela ao g1.

Aline, de 42 anos, contou a nossa reportagem que sempre idealizou gerar um filho. Porém, após tentar engravidar nos primeiros dois anos de casada com Sidnei Muniz, ela descobriu que não seria fácil.

“Eu fui à médica, ela falou que eu tinha ovário policístico, que ia ter um pouco de dificuldade e o tempo foi passando. Meu marido fez uns exames também, ele tinha pouco espermatozoide também. Eu ia pulando em um médico, pulando em outro”, explicou ela.

Diante do diagnóstico médico de que seria difícil engravidar por meios naturais, ela ainda enfrentou a negação própria, devido a sua religião.

“No meu sentimento, eu queria ficar grávida naturalmente. Eu não conseguia aceitar, ainda mais por eu ser evangélica, não conseguia aceitar esse tratamento”, contou.

Como de costume, Aline continuou frequentando diversos clínicos, até encontrar um caminho para a maternidade. Durante as várias consultas e indicações, ela começou um tratamento de indução de ovulação, que falhou.

O médico, na época, disse que a solução mais possível e indicada para ela seria a Fertilização In Vitro, também conhecida como FIV. Mesmo com o caminho mais claro, Aline ainda não conseguia trilhá-lo.

“Virei as costas e fui embora, porque não conseguia aceitar dentro de mim. Eu já estava com 13 anos de casada. Os anos foram passando e passando. Quando eu estava mais ou menos com 18 anos de casada, meu irmão me falou: ‘Aline, tenta mais uma vez, vai ao médico de novo’. Aí eu fui a outro médico. Chegando lá, ele olhou meus exames e falou: ‘Aline, eu posso fazer o melhor tratamento do mundo, se Deus não permitir, você não vai ficar grávida'”, relatou a cabeleireira.

Neste momento, Aline percebeu que conseguiria aliar a ciência à religião e iniciou um novo tratamento para tentar regularizar o sistema hormonal.

Mais de duas décadas de tentativas

O tempo passou, o tratamento seguiu e, mesmo assim, Aline ainda não conseguia engravidar. Até que, com 23 anos de casada, aos 39 anos, ela voltou a se consultar com um antigo médico, que lhe apresentou novamente a FIV.

“Mesmo fazendo a FIV, a porcentagem era de uns 15% pela minha idade, porque eu já estava com 39 anos. Falei para o doutor que agora queria fazer, eu comecei a aceitar dentro de mim isso”, comentou.

Aline começou o tratamento e, em meio a muitas orações, realizou o procedimento. Após 15 dias do repouso indicado, ela decidiu comprar um teste de gravidez, que deu positivo.

“O sentimento foi de não acreditar. Quando fiz o teste, eu falei: ‘Meu Deus!’. Porque eu já tinha feito milhões de testes nessa vida. Todo mundo já tinha até perdido a fé que eu ia engravidar, mas eu tinha uma promessa de que Deus ia me dar um filho”, relatou ao g1.

Para Aline, toda os anos de tentativa e espera valeram a pena com a chegada do pequeno Léo.

“Eu achava que era feliz, mas hoje vejo que sou a pessoa mais feliz desse mundo. Eu agradeço todos os dias da minha vida por Deus ter me presenteado. O meu filho me fez uma pessoa melhor. Meu marido até brincava e falava: ‘Ai, amor, nós nem precisamos de filho, a gente é feliz’. Aí hoje, quando eu vejo ele brincando com o nenê, eu falo: ‘Amor, a gente era feliz?’ Ele fala: ‘Não, hoje a gente é feliz’. Filho foi o melhor presente que Deus pôde me dar na minha vida”, ressaltou a nossa reportagem.

Fertilização In Vitro

Segundo o ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana Wilson Jaccoud, há diversos procedimentos relacionados à infertilidade, mas a FIV é a mais procurada na clínica em que atualmente trabalha.

Jaccoud explica que o tratamento é realizado em quatro etapas:

Estimulação ovariana: a mulher costuma ovular um óvulo por mês. Nessa primeira fase, é feita a estimulação nos ovários para que produzam vários óvulos.

Coleta dos óvulos: esta etapa é feita no centro cirúrgico, com uma sedação. Os óvulos são coletados via vaginal, com auxílio de ultrassom.

Fertilização: após a coleta, os óvulos são encaminhados para uma embriologista, que são fertilizados no laboratório com o espermatozoide.

Transferência dos embriões: nesta última fase, o embrião é transferido para o corpo da mulher com três ou cinco dias de vida. "É como um exame ginecológico, um preventivo, por exemplo", explicou o especialista ao g1.

FIV não é 100% eficaz

O especialista ainda explica que o método é indicado a mulheres com idade superior a 35 anos, que já tentaram engravidar naturalmente por doze meses e não conseguiram.

“A gente pede pra não esperar muito, porque os óvulos vão envelhecendo, então, as dificuldades vão aumentando”, contou o especialista em reprodução humana.

Apesar da alta demanda nos últimos 20 anos, a fertilização in vitro costuma proporcionar de 35% a 40% de chance de engravidar a cada tentativa em mulheres de 35 anos, conforme o médico.

“Este é um dado mundial. É o máximo que [o método] consegue, isso nos melhores laboratórios do mundo. De cada dez casais que fazem tratamento, em média de 3 a 4 conseguem engravidar pela primeira vez”, relatou.

Após os 38 anos, a eficácia do tratamento diminui. Em muitos casos, a paciente que deseja engravidar não consegue fazer uma fertilização com os próprios óvulos. Desta forma, é necessário recorrer ao óvulo de uma doadora.

Alto custo e planejamento

Outro fator determinante para a tentativa do método da FIV é o alto custo. Estima-se que uma fertilização in vitro em clínicas particulares oscile entre R$ 20 mil e R$ 50 mil, por tentativa.

Segundo o especialista, o tratamento não é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os convênios médicos também não cobrem os custos do método.

A cabeleireira Aline Muniz informou a nossa reportagem que gastou cerca de R$ 17 mil para realizar a FIV.

Questionado sobre o valor do procedimento ofertado na clínica em que trabalha, Jaccoud não informou a quantia, pois o Conselho Regional de Medicina (CRM) entende por divulgação particular e estímulo de concorrência, o que não é permitido, conforme o médico.

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A igualdade entre os gêneros também estimula a procura pelo método. Conforme o especialista em infertilidade, muitas mulheres estão deixando para engravidar mais tarde devido a motivos particulares, como a carreira profissional, por exemplo.

“A fertilidade da mulher é máxima dos 16 aos 28 anos. Então, é importante para uma mulher hoje que está chegando aos 35 anos e ainda não tem um planejamento para ter um filho a curto prazo, de dois, três anos, ou não ter um parceiro ainda, que ela procure orientação sobre congelamento de óvulos”, contou o médico.

Fonte: G1